Crítica | Dua Lipa navega entre altos e baixos com o álbum ‘Radical Optimism’

Em pouquíssimos anos de carreira, Dua Lipatransformou-se em uma powerhouse como nenhuma outra. Estreando oficialmente em 2017 com seu álbum homônimo e conquistando o mundo com a ótima faixa “New Rules”– mantendo-se fiel à estética mainstream que dominava as paradas à época, mas apresentando uma originalidade apaixonante que, pouco tempo depois, lhe renderia o Grammy de Artista Revelação . Em 2020, a artista britânico-albanesa alcançou um novo patamar no cenário fonográfico com o aclamado ‘Future Nostalgia’, facilmente um dos melhores discos da década e que ficou responsável, ao lado de outras produções, pelo retorno do disco e do dance .

É claro que, considerando o profundo impacto que a cantora e compositora causou desde seu début , não poderíamos estar mais animados para seu vindouro terceiro compilado de originais: intitulado ‘Radical Optimism’, o álbum, de pouco mais de meia hora de duração, iria se manter fiel à estética escapista e hedonista explorada nas incursões predecessoras, apostando fichas em um convite às pistas de dança e em construções upbeat que automaticamente caem no gosto popular. Ora, se há alguém na atualidade sobre quem podemos atribuir a máxima “pop perfection” , esse alguém é Dua Lipa – mas o que aconteceria caso a performer esbarrasse em repetições constantes para nos contar suas histórias?

Ambos os discos anteriores se tornaram massivos sucessos de crítica e de público, consagrando-se como os mais ouvidos do Spotify e reiterando o invejável poder que ela detém na contemporaneidade. Para promover o novo álbum, Dua nos presenteou com três sólidos singles : “Houdini”, movido por um celebratório nu-disco e electro-house ; “Training Season”, sem sombra de dúvida um dos destaques de sua carreira até o momento, com um hook apaixonante e dilacerante; e “Illusion”, um comedido house clássico que buscou inspirações em nomes como Kylie Minoguee Melanie C. É claro que ficaríamos animado para ouvir o que ela tinha guardado a sete chaves até o lançamento do compilado – e o resultado, apesar de prático e funcional, e de se manter fiel à identidade firmada nos anos anteriores, é um tanto quanto repetitivo e um pouco decepcionante.

É preciso dizer que a primeira metade do projeto é convincente em sua totalidade, a começar pela divertida faixa de abertura “End Of An Era”, que ergue-se em um dance-pop chiclete e que demonstra as temáticas com as quais Dua irá trabalhar: autopreservação, libertação emocional e amadurecimento pessoal – escolhas bem interessantes, considerando que ela se rendera em um passado não muito distante às reflexões do amor e aos anseios festivos. “These Walls”, a melhor entrada dessa breve jornada musical depois de “Training Season”, é pensada com extrema cautela e, além de arrancar vocais poderosos da cantora, permite que ela navegue através de um enredo midtempo de separação em uma bem-vinda melancolia que reitera alguns contrastes.

Dentre os outros ápices da produção, podemos citar “Whatcha Doing”, que brinca com incursões do electro-funk com o pandeiro e um impactante baixo para nos levar a uma viagem no tempo para os anos 1990 – por mais que escolhas no refrão soem um pouco estranhas; “Maria”, pegando referências do EDM e da folktronica exploradas por nomes como Aviciino início da década de 2010, começa a amarras as pontas soltas deixadas pelas tracks anteriores para uma satisfatória conclusão que explode no power-pop de “Happy For You”. É notável como Dua, aliando-se a um time considerável de produtores e compositores, faz o máximo possível para agradar a seus fãs – mas, em dado momento, percebemos que alguma coisa está faltando.

A verdade é que, à medida que as curtas faixas chegam ao fim, ‘Radical Optimism’, ainda que se afaste ‘Future Nostalgia’em quesitos como sonoridade e progressão, assemelha-se a um afterthought , um corolário de descartes que, de fato, poderia ter sido mais bem trabalhado. Isso fica claro em três iterações: “French Exit”, cujas boas intenções são manchadas por uma lírica sedentária e infantilizada; “Falling Forever”é uma soma de ótimas peças que não se encaixam: de um lado, uma produção pautada nos sintetizadores e na bateria e, de outro, uma rendição que estaria mais apta dentro de uma construção em balada – e tudo fica ainda mais claro quando chegamos no refrão; e “Anything for Love”é desperdiçada em uma mudança drástica de estilo que não faz o menor sentido.

Se a ideia do popismo estava em alta com Dua Lipa na memória recente e até mesmo no início da promoção de seu terceiro álbum, aqui ela parece não estar confortável o bastante para trazer a vulnerabilidade que esperávamos a fim de nos conectarmos mais à sua persona . Não se enganem: o compilado passa longe de ser ruim, mas é notável como poderia ter sido pensado com mais estruturação para garantir o mesmo frescor de originalidade do que já fez.

Não deixe de assistir:

Nota por faixa:

1. End of an Era – 3,5/5
2. Houdini – 4/5
3. Training Season – 5/5
4. These Walls – 5/5
5. Whatcha Doing – 4,5/5
6. French Exit – 2/5
7. Illusion – 4/5
8. Falling Forever – 2,5/5
9. Anything for Love – 1/5
10. Maria – 3,5/5
11. Happy for You – 3/5

Thiago Nolla https://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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