- Relembre nossa crítica de ‘ Thor: O Mundo Sombrio‘. A crítica de ‘ Thor – Ragnarok‘ será lançada hoje, as 14 horas.
O deus do trovão retorna numa aventura quase épica .
Diferente da grande maioria, gosto do primeiro Thor – não só pela distinta direção de Kenneth Branagh ( Frankenstein de Mary Shelley ), de forte teor shakespeariano, como pelas boas cenas de batalha e a criação do universo Asgard. Do mesmo modo, também apreciei esse Thor: O Mundo Sombrio , que assim como o anterior, tem lá seus problemas e, de certa maneira, acovarda-se no acabamento. Entretanto, no fim das contas, cumpre bem a sua função.
Este, comandado por Alan Taylor, que dirigiu alguns episódios da série Game of Thrones , quase seria um épico, pelo menos em seu primeiro ato, não fosse ele apostar em subtramas mais “humanas”, digamos assim. O que acabou tornando a fita ainda mais atraente. Sou um voyeur assumido do casal Chris Hemsworth e Natalie Portman, e aqui as coisas parecem funcionar ainda melhor. A apresentação familiar me cativou bastante, e a boa dose de comédia tornou a narrativa orgânica. Ainda que, em nenhum momento, deixe a aventura em segundo plano, pois é recheado de entraves.
Achei interessante a fotografia de Kramer Morgenthau ( Um Crime de Mestre ), por saber mesclar bem alguns conceitos entre os dois mundos, dando tons referentes, à atmosfera daqueles universos. Com lentes mais acesas, o dourado é realçado em Asgard, criando o efeito de riqueza. Já em Londres, Morgenthau aposta em tons mais frios, dando um aspecto morno à região, simbolizando o estado emocional da personagem Jane Foster. Assim como a direção de arte foi fundamental para que o troço permanecesse crível aos nossos olhos, apesar dos excessos visuais. Já a trilha sonora, entra e vai embora, sem que ninguém repare.
Não poderia deixar de elogiar, também, a sempre marcante presença de Tom Hiddleston, que prova ser, de longe, o ator mais importante e interessante dessa leva de movie-heroes . Pra variar, ele rouba a cena e diminui qualquer um, quando em tela.
Contudo, talvez se o grupo de roteiristas, formado por Christopher Yost, Christopher Markus e Stephen McFeely, fosse um pouquinho mais ousado, e se empenhassem no desenvolvimento do texto, principalmente em sua resolução, Thor: O Mundo Sombrio seria um dos melhores trabalhos da MARVEL Studios. O que acaba sendo uma pena, ver tamanho potencial ser desperdiçado.
Mas, como muitos sabem, ousadia é uma palavra que quase não existe no dicionário dessa produtora, isso em relação à complexidade de roteiros. Pelo contrário, estão ficando cada vez mais didáticos. Nesse título, por exemplo, temos uma introdução enorme – formidável, aliás –, em formato de flashback , sobre o que vai desencadear o conflito da trama. Logo depois, na no início do segundo ato, Odin ( Anthony Hopkins) nos conta, novamente, como tudo aconteceu. Provando, assim, que estão formando um público cada vez mais dopado e preguiçoso – vide o relativo sucesso que o terrível seriado Agents of S.H.I.E.L.D. , incrivelmente, vem tendo.
Em todo caso, esse filme revigora o gênero e resgata a esperança do que vem sendo chamado de “fase 2”, já que Homem de Ferro 3 , apesar de atingir uma bilheteria colossal, desapontou de americanos e soviéticos a gregos e troianos. Aguardemos, então, os próximos fascículos dessas aventuras MARVEL, que, ao que tudo parece, ainda vai render por anos. Não que tenham feito trabalhos ruins, mas é evidente que precisam, urgentemente, ter um pouco mais de ambição artística, dentre tanta comercial e financeira.