O PREGADOR
NOV
21

A GERAÇÃO DE CRENTES "DESCOLADOS"... UMA REFLEXÃO CRÍTICA


O Evangelho é espalhado e pregado por testemunhas. Essas testemunhas constituem-se de indivíduos que vivem em uma cultura e em um tempo, em uma época. Portanto a maior parte de seu modo de ser é semelhante e portanto não muito diferente das pessoas do lugar e das exatas condições em que nascera, crescera e se desenvolveram.

Desse modo é até estranho como as pessoas ávidas por uma igreja que seja do seu jeito, música, liturgia, pregações e pregadores, não atinem que se o grande apóstolo Paulo viesse em qualquer de nossas igrejas hoje, em plenos séculos XX e XXI não gostaria das mesmas e os crentes certamente muito pouco dele.

O próprio Senhor Jesus, homem perfeito e Deus, nascido e crescido na Palestina, se já era estranho às pessoas e aos seus contemporâneos imagine a nós crentes do século XXI, urbanos, descolados, etc?

É também verdade que em todas as épocas anteriores, os crentes sempre adotaram um perfil que os distinguisse visualmente das demais pessoas consideradas apropriadamente como não crentes, não da igreja, pertencentes a outro grupos, a outras instituições. Soldados sempre em qualquer época sempre usaram uniformes, indumentárias próprias assim como religiosos e representantes religiosos de religiões antecessoras do próprio cristianismo. Ou seja sempre houve e há por circunstâncias mais que óbvias, um perfil visual, um esteriótipo do que e de quem seja visual e comportamentalmente um “crente”.

Não é esse exatamente o problema. O problema é quando o desejo de se enturmar, de se misturar, de mostrar as demais pessoas que se não é tão diferente em coisas secundárias que não são virtudes por si mesmas se torna algo incrivelmente impositivo. E não importa se o mesmo fenômeno ou comportamento já ocorreu de outra forma, alimentando um perfil mais “conservador”.
Esse ou parece ser exatamente o fenômeno mais recente: um esforço ativo em se afastar do perfil mais tradicional e se mostrar eternamente e pateticamente jovem através das roupas do corte de cabelo, da barba e do movimento do corpo diante de uma plateia. O tom coloquial, quase o dever de arrancar risos e dar exemplos simplórios ( o que é diferente de exemplos simples e mais facilmente compreensíveis ) demonstrando a intenção ativa de ser aceito e aplaudido.

Há situações terrivelmente patéticas como a de traduzir e transplantar para espaços brasileiros, expressões como “Quem está comigo?” e outras. Mas alguém pode dizer que o apelo feito para se aceitar Jesus é algo também importado, uma invenção particularmente de pregadores norte americanos, originário nos EUA. Mas convenhamos não é a mesma coisa. Temos em português frases mais claras como “Estão entendendo?”, “Vocês compreendem?”, “Entendem o que estou dizendo?” usadas naturalmente e muito melhor entendidas.

Os gestos imitados dos cantores e cantoras nos cultos contemporâneos, repetidos com pouca ou suspeita naturalidade, dão caráter suspeito à espiritualidade aparente. Mas cantores e cantoras, pregadores e pregadoras no passado também não apresentavam algum grau de imitação ou de reprodução de comportamentos? Na verdade sim. Jimmy Swaggart, primo de Jerry Lee. Leews bem como se contemporâneo Elvis Presley ( todos estariam com a mesma idade hoje com diferença de poucos meses de uns para os outros ) apresenta os mesmos gestos e maneirismos de sua geração, seja falando, cantando, andando, tocando, etc. No caso deles há uma história, um conjunto de coisas e comportamentos naturalmente surgidos e cultivados entre os seus iguais. É assim no mundo inteiro. É desse modo exatamente que sabemos prontamente quando alguém é carioca, gaúcho, mineiro, nordestino, etc.

Não é o caso do que se vê hoje, de repente o sujeito raspa a cabeça, deixa crescer apenas um cavanhaque sem bigode e parece um muçulmano, ou um lenhador canadense, seus braços com bíceps fortes e as vezes tatuado ficam a mostra, rígidos mesmo que segurem uma leve folha de papel. Calças apertadas nas canelas e coxas e largas e caídas nas nádegas. Mais recentemente uma camisa que se assemelha a uma túnica e que se estende até as virilhas, tornando a aparência meio andrógena. Se antes as mulheres na igreja eram consideradas atrevidas e com sensualidade imprópria ao culto e à “pureza feminina” agora é o grupo de homens que parece exagerar na sua visibilidade como se um movimento de modernismo masculino os transformassem em indivíduos tão produto da moda e das frívolas imposições sociais e culturais quanto os que ainda ostensivamente fazem parte do mundo. 

Mas isso em si é algum “pecado” como era injusta e erroneamente imposto em passado não muito distante, particularmente pelos pentecostais tradicionais que arvoravam para si uma santidade particular, com seus cabelos cortados baixo, sem barbas e raramente e as vezes somente algum bigode, camisas de manga comprida, sapatos sociais, gravata e terno. Se antes o objetivo era ser diferente para ser “santo” ( separado ) agora o movimento é oposto: não ser “diferente” para não ser excluído, atrasado, ignorante, obtuso, de mente fechada.

Pode-se ignorar o fenômeno presente ou atacá-lo, os dois extremos não trazem nenhuma construção ou benefício ou se debruçar sobre ele e questionar a sua motivação e ganho ( se os há ) ou perdas ( se as há igualmente ). O fato é que algo esteja acontecendo e a um olhar superficial, dada a sua leviandade, é pouco provável que esteja ocorrendo algum ganho real. Eu particularmente depois de mais de quatro décadas convivendo com todas as transformações e sendo testemunha objetiva de muitas delas sem entrar em controvérsias, debates e ataques ativos a nenhum de seus promotores, procurando atentar para o que sempre é mais importante, observo com estranhamento tentando ser justo e avaliar sem exageros o comportamento de parte da igreja hoje, entre jovens e jovens adultos.

Se tais comportamentos são efêmeros e por serem exatamente isso logo serão pateticamente abandonados e substituídos e não se fará desse comportamento uma avaliação como não se fez em tempo do excesso de rigidez de algumas denominações em passado nem tão distante?

A tendência prevalente entre uma rigidez estúpida e uma volatilidade inútil mais uma vez se imporá à Igreja? 

Fica a pergunta!

Por Helvécio S.Pereira*

*Graduando em teologia e pedagogo
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Verdade concordo com o texto !!! Crentes de hoje n...
nov
27
Verdade concordo com o texto !!! Crentes de hoje não fazem diferenças em relação as pessoas do mundo
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