R
ecebi do querido irmão Mizael Reis um comentário, mais uma vez bastante inteligente e apropriado às reflexões que ora fazemos em torno da Soberania de Deus e possibilidade de alguma liberdade humana, a qual reproduzo abaixo:
Helvécio,
Eu entendo e acredito que convergimos no fato de crermos na Soberania de Deus.
Contudo, não sei se quando você pensa sobre tal soberania, pensa nas consequências que vem a reboque. Se Deus é Soberano, tudo está sob sua regência, e a tal liberdade neutra não existe. Veja um exemplo: Micaías profetizou a queda de Acabe: "E disse Micaías: Se tu voltares em paz, o SENHOR não tem falado por mim. Disse mais: Ouvi, povos todos!" [1 Rs 22.28] Ele não retornaria, sob cumprimento à profecia dada providencialmente por Deus ao profeta. Alguns versículos à frente, ele morre, de maneira aparentemente inadvertida e contingencial: "Então um homem armou o arco, e atirou a esmo, e feriu o rei de Israel por entre as fivelas e as couraças; então ele disse ao seu
carreteiro: Dá volta, e tira-me do exército, porque estou gravemente ferido." [1 Rs 22.34]
O homem lançou uma flecha ao esmo. Ele escolheu lançar a flecha, mas o caminho dela, bem
como a determinação sobre o desejo de lançá-la vinha de Deus. Logo ele foi responsável, mas não livre. Sua decisão não só fora antevista por Deus, como determinada para um plano maior. É assim, com todos os homens. Para que assim não seja, Deus não pode ser Soberano. Mas isso é impossível, logo, não somos neutramente livres. Não existem possibilidades não decretadas por Deus a fim de favorecer o homem com sua suposta liberdade à escrever uma história não escrita. Para Deus tudo está decretado, e nossas escolhas já determinadas a favor de seu misterioso plano.
Graça e paz Mizael Reis
Graça e paz Mizael Reis
Bem partirei do texto e do evento por ele muito bem relatado e fiel ao texto bíblico. Como havíamos conversado anteriormente a partir da minha recente postagem nesse mesmo blog, " CRISTÃOS MUDAM A HISTÓRIA OU NÃO ?
" em que eu alertava sobre a possibilidade real de optarmos pelos candidatos disponíveis para serem eleitos, e naturalmente sujeitos a nossa análise no último dia 3 de Outubro, fato que se repetirá no próximo dia 31 de Outubro desse ano, na qual postagem o irmão Mizael Reis apresentou com legitimidade outros argumentos.
Sobre a soberania de Deus todos os cristãos do mundo concordam que ela seja um fato, seja irretocável e imutável. O Deus criador de todas as coisas não encontra rival ou semelhante em nenhuma mitologia em que o Deus criador e sustentador, a fonte do bem tem um rival a sua altura e de força e poderes também rivais. O Deus bíblico não tem quem o ponha de fato, em poder, grandeza, sabedoria, exatamente em nada. Esse é o Deus de Abraão, o Deus dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos, no que concerne a Sua soberania. A diferença reside na parte do homem e por extensão as demais criaturas inteligentes criadas por Deus.
Defendi na oportunidade, que a Bíblia, as Escrituras judáico-cristãs, embora não tragam a expressão livre-arbítrio, mais tardia e de raízes e concepção filosóficas pagãs, revelam de maneira inequívoca como é essa relação: da soberania divina e vontade humana. Tal debate e reflexões acaloradas não são novas e não há, de nenhuma forma a pretensão de reinventar a roda ou descobrir a redondeza da terra. Se conseguir uma demonstração mais clara não há mérito particular nas minhas demonstrações, mas talvez por um eventual sucesso em organizar as ideias e demonstrá-las.
Partindo do texto lembrado pelo irmão Mizael, que pode e deve ser lido nas nossas próprias Bíblias vejamos:
Essa passagem é bastante complexa e mais reveladora do que parece a primeira vista. Vários profetas fazem parte dos acontecimentos e muitos falam mentiras a partir de uma permissão dada pelo Senhor para que o rei Acabe confie em seu próprio braço e caia finalmente em desgraça. O verso (I Reis 22:28) traz o registro do profeta que fala em nome do Senhor, palavra refutada pelo rei Acabe. Todos os acontecimentos seguintes fazem parte do juízo de Deus sobre esse homem, que cometeu grandes e graves afrontas diante do povo de Israel contra o Senhor. Os registros seguintes mostram, que mesmo Acabe tentando ludibriar a Deus disfarçando-se e vencer segundo a sua própria inteligência e força, sem que os Sírios soubessem onde estava o Rei ( disfarçado entre os pequenos soldados ). Uma flecha, aparentemente ao acaso, lançada a esmo por soldado sírio, o fere exatamente entre as fivelas da armadura do rei ímpio de Israel.
Bem essa passagem, esses fatos, esse registro histórico não depõe contra a soberania de Deus e nem contra a possibilidade de autonomia humana. Explico: o texto e registros em questão, com pormenores importantes apenas revelam a eficiência do julgamento divino, finalizado por ações naturais passíveis de serem testemunhadas e julgadas pela razão humana e assim apreendidas. Logicamente Deus poderia matá-lo, tirá-lo do poder, por "n" formas e maneiras, mais sutis, invisíveis e muito mais eficazes, digamos um enfarte, um aneurisma, etc. Porém a sequência de fatos produzem em todos os envolvidos um testemunho pessoal e histórico, enfim uma reflexão a ser feita por nós hoje, como grande e reveladora lição. O próprio Acabe não morrera imediatamente. A peleja durou todo o dia segundo a Bíblia e o rei sustentando o seu carro defronte os Sírios morrendo à tarde.
Os versos de 1 Reis 22:36 a 39 registram a condição de humilhação e negação de honra para um homem que conhecendo a Deus o afrontara. Aliás Acabe costumava ouvir mais de quatrocentos profetas menos um: Micaías , filho de Inlá, que segundo o rei Acabe, nunca profetizava o que era bom a seu respeito mas somente o que era mal. Acabe conhecia a Deus mas não se submetia a Ele, ao Senhor, e só ouvia o que lhe agradava o coração.
Aliás, disse anteriormente que o texto não pendia nem para um lado nem para o outro, e de fato não, no caso do objeto da nossa reflexão, mas se observarmos bem, toda a rebeldia de Acabe era voluntária, sendo até advertido por Josafá a não manifestar-se daquela maneira contra o verdadeiro profeta que trazia sempre a verdadeira mensagem do Senhor, Micaías, e que portanto deveria ser ouvido e obedecido por Acabe.
Deus não é, do ponto de vista estritamente escriturístico, refém do homem, mas com ele homem, se relaciona, de acordo com as escolhas que esse homem faz. Esqueçamos por ora, como se dá esse processo, e que nome seja mais conveniente a esse fenômeno. Acabe errou digamos, livremente, foi advertido, avisado, de que deveria agir de outro modo. A justiça de Deus se manifesta em avisar-nos de que estamos no caminho errado, agindo erradamente, e que devemos mudar as nossas ações e atitudes e rapidamente pois um juízo se instalará quase que imediatamente, quiça à próxima rebeldia. Somos instados a nos arrependermos, a crermos, a pedirmos, a irmos e fazermos o que é nos ordenado a fazer, etc.
Não seria lógico e necessário tais admoestações e exortações se já tivéssemos a disposição para fazermos exatamente o que nos é pedido, e ou até ordenado. O contrário seria igualmente verdade: se não houvesse nenhuma possibilidade de arrependimento ou mudança de atitude. Porém o Espírito do Senhor não contende indefinidamente com o homem. Chega o momento que Deus nos diz de certa maneira: o que tendes de fazer faze-o rápido. As consequências não serão para o afrontador boas e ele, ele o homem, será responsabilizado, cobrado e justamente castigado pelo tal ato e escolha.
Não seria lógico e necessário tais admoestações e exortações se já tivéssemos a disposição para fazermos exatamente o que nos é pedido, e ou até ordenado. O contrário seria igualmente verdade: se não houvesse nenhuma possibilidade de arrependimento ou mudança de atitude. Porém o Espírito do Senhor não contende indefinidamente com o homem. Chega o momento que Deus nos diz de certa maneira: o que tendes de fazer faze-o rápido. As consequências não serão para o afrontador boas e ele, ele o homem, será responsabilizado, cobrado e justamente castigado pelo tal ato e escolha.
Um detalhe: no texto em questão temos uma situação recorrente em vários outros acontecimentos bíblicos em que o homem da flecha não decidiu lançá-la, discordando eu do que o irmão Mizael Reis afirmara. Há situações em que o Senhor assume todo controle, de todas as vontades e de todos os acontecimentos e de todas as variáveis da natureza. Nem querendo o homem acertaria onde acertou com a sua flecha o rei Acabe. Foi assim nos acontecimentos que envolveram certos momentos da vida e ministério do profeta Jonas e da moeda na boca do peixe pescado por Pedro para pagar o imposto a César.
De fato o plano macro de Deus jamais, nunca é frustrado e finalmente o Senhor intervém com sua ação e julgamento. Mas até lá há espaço para as ações humanas, pelas quais somos julgados e se com a nossa fé o agradarmos, colheremos misericórdia e livramento e salvação. Há o período, o tempo, portanto de observação e julgamento, algo claro em toda a Bíblia. No julgamento nada poderá ser alterado e ninguém prevalece contra Deus. O Senhor não se deixa vencer nem pela vontade do homem ou por nenhuma vontade de nenhuma outra criatura. Por que não há misericórdia com os anjos e com relação a Satanás? Pois o período de observação para eles já é passado. Com relação a Satanás dizem as Escrituras reveladoramente: "até que foi achado nele ( Satanás ) iniquidade".
Caro irmão Mizael Reis, espero ter sido útil essa reflexão. Mas não acabou. Um grande abraço e muito obrigado pela sua participação.
Por Helvécio S.
Pereira